Formatura do Programa Brasil Alfabetizado

   SESC - 30/07/2010
     Por Carolina Nunes






Isolina Dias, com 88 anos bem vividos, precisou de ajuda para chegar ao palco do auditório do Sesc Nova Iguaçu. Com um passo de cada vez, já sem enxergar muito bem, Dona Isolina queria dizer que nunca é tarde para realizar sonhos. Já com uma idade avançada, ela queria aprender a ler e a escrever. “Estou muito feliz de estar aqui hoje para receber meu diploma. Agora que eu peguei o gosto pelo estudo, quero aprender muito mais. Agradeço muito pelo esforço e a garra da minha professora, que me busca dentro de casa para que eu possa aprender”.
Dona Isolina está entre os 1.800 alunos que se formaram nesta quinta-feira, dia 29 de julho, no Programa Brasil Alfabetizado, implementado pelo MEC desde 2003. Os estudantes, da Coordenadoria Regional Metropolitana I, são dos municípios de Nova Iguaçu, Queimados, Japeri, Nilópolis e Mesquita. Esta etapa do programa formou dez turmas no Complexo Penitenciário de Japeri, idosos, pessoas com necessidades especiais e moradores de rua.

Casada desde muito nova e com seis filhos, Sueli da Conceição Viera, 29 anos, nunca teve a oportunidade de estudar. Emocionada, Sueli leu um depoimento, escrito especialmente para a formatura: “Eu nunca tive família, mas me casei cedo e meu marido não me deixava aprender. Hoje em dia, depois de muito sacrifício, eu posso ler histórias para os meus filhos, pegar ônibus sozinha, usar o computador e celular. Quero continuar estudando, sempre!”.

Casados há 54 anos, Edith de Almeida Soares e Abiatar Soares começaram a estudar juntos. O casal, que chegou ao Rio de Janeiro há mais de 40 anos fugindo da miséria na Paraíba, não sabia ler, nem escrever. “Chegava do trabalho cansado, à noite, com dor na coluna, e ia para o colégio. Não foi fácil, mas enquanto há vida, há esperança”, disse Abiatar, enquanto posava para fotos com seu diploma nas mãos.


Segundo o coordenador Jader Campos, da Coordenadoria Regional Metropolitana I, o projeto é recompensador. “Este é sem dúvida um dos eventos mais importantes da Coordenadoria. São 1.800 pessoas que estão vendo o mundo de outra maneira, resgatando sua cidadania”, afirmou. A implementadora do projeto, Eliana de Souza Papaléo Moura, recebeu homenagens de todos os professores alfabetizadores, que também deram seus depoimentos e emocionaram o público. “Eu trabalho com alfabetização desde 1995 e amo o que faço, acho que é por isso que consigo coordenar uma equipe de professores tão dedicada. Alfabetizar é oferecer vários caminhos a quem antes não tinha nenhum. O programa não tem fronteiras”, disse Eliana.

O alfabetizador Alexandre Pereira Gonçalves teve algumas dificuldades, mas percebeu sua importância no processo de ensino e não teve dúvidas de seguir em frente. “É muito bom mostrar para os alunos que podemos indagar o sim e o não. É gratificante e me enche de orgulho fazer parte desta equipe. O sonhador que eu era no início, deu lugar ao espectador. Aprendendo com eles é que cheguei até aqui”.

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